
31 de março de 2008
Poesia
30 de março de 2008
O afastamento
Quando chegar a hora eu conto tudo tá!
Boa semana a todos e sejam felizes...
Agradeço quem diariamente faz uma visitinha aqui, saibam que visito sempre os blogs amigos (linkados aqui) e a medida que for descobrindo outros blogs legais eu os "linkarei".
Abraços e beijocas!
25 de março de 2008
Travessia - Frei Betto
Resta em nós uma perene idade da inocência.
A ternura denuncia a veracidade do amor, sublinha Milan Kundera. Recôndito no qual evocamos, nostálgicos, as missas de domingo, as procissões sob andores cercados de velas, o toque salvífico da água benta, o silêncio acolhedor de igrejas que o gótico não teve vergonha de desenhar como vulvas estilizadas.
Jesus ressuscitou! - celebra esta festa de aleluias.
Ainda que a razão não alcance a dimensão do fato pascal, a intuição capta a crise da modernidade a nos induzir a um mundo sem mistérios e enigmas. Mundo sombrio, onde os mortos se sobrepõem aos vivos.
Até o advento do Iluminismo, a inteligência recendia a incenso. Copérnico e Galileu decifraram a harmonia da natureza como reflexo do Criador, e Newton acertou seus cálculos pelos ponteiros dos relógios das catedrais. Depois, o dilúvio inundou os claustros. A razão irrompeu soberana, relegando à superstição tudo que não fosse mensurável. Então, o mistério aflorou.
De que valem perguntas quando se julga possuir todas as respostas? Voltaire e os enciclopedistas ousaram secularizar a inteligência e, mais tarde, Baudelaire e Rimbaud tatearam ávidos em busca de um Deus capaz de aplacar-lhes a sede de Absoluto. Dostoiévski revestiu-se da figura emblemática de Jesus, despiu seus monges das vestes eclesiásticas, escancarou-lhes a alma atormentada pelos demônios da dúvida.
Nietzsche roubou o fogo dos deuses e incendiou de liberdade o espírito humano. Sartre proclamou que o inferno são os outros e erigiu o absurdo da morte em ato final que destitui a vida de qualquer sentido.
Entre angústias e utopias, o último século foi também marcado pelo enigma Jesus. Corações e mentes o acolheram como paradigma: Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene, Alberto Schweitzer etc. No Brasil, Murilo Mendes, Sobral Pinto, Gustavo Corção, Tristão de Athayde, Hélio Pellegrino etc.
Hoje, pavores transcendentais já não atribulariam a alma poética de um William Blake. Entre tanta miséria, esvai-se o encanto. Jesus é Deus que se fez homem e, de homem, virou pão. Pai Nosso/pão nosso. Esta concretude assusta. A fé cristã não proclama a ressurreição da alma, mas "da carne". Jesus não é a figura do Olimpo grego enaltecida pela força irrepresável da literatura. É o judeu crucificado, por razões político-religiosas, na Palestina do século I, e cujas aparições, como ressuscitado, contradizem as regras da ficção literária. Que autor criaria um personagem imortal com chagas nas mãos e ansioso por comida? As narrativas evangélicas são, tecnicamente, descrições de um fato objetivo. À luz da fé, proclamação de que Jesus é o Cristo.
Antes de cair em mãos da repressão que o assassinou, Jesus fez-se comida e bebida. Poeta e profeta, dominava a linguagem realista dos símbolos. Eis aqui o desafio atual à inquietude da inteligência. O pão repartido passa a ser corpo divino; o vinho partilhado, aliança feita com sangue e prenúncio da festa sem fim. O Deus de Jesus não é um velho Narciso à cata de adoradores nem um algoz irado com os pecadores. É Abba, o pai amoroso ("mais mãe do que pai", diria João Paulo I), cujo dom maior é a vida.
Já não temos as longas guerras que inquietaram espíritos como Tolstoi e Camus; o que vemos, de Bagdá a Guantánamo, é escabroso comparado à engenharia marcial dos exércitos em conflito: a estrada rumo ao futuro palmilhada de corpos degradados e famintos. Hoje, tropeça-se na rua em seres esquartejados em sua dignidade. Todos os discursos oficiais e todos os ajustes fiscais ofendem a condição humana por exaltarem a concentração do lucro e ignorarem a partilha da vida. Em sua hipocrisia, o sistema salva sua aura cristã e exclui o pão. A metafísica monetarista estabiliza moedas e desestabiliza famílias; reduz a inflação e aumenta a miséria; socorre bancos e multiplica o desemprego; abraça o mercado e despreza o direito à vida - e vida em abundância, para todos.
Agora, a globalização despolitiza, o esoterismo desculpabiliza e o consumismo individualiza. Livres de ideologias messiânicas, de culpas aterrorizadoras e de altruísmo coletivo, estamos à deriva neste início de século, cujas pitonisas proclamam que "a história acabou".
Páscoa é travessia - também para uma ética política, que torne o pão acessível a cada boca e, o vinho, alegria em cada alma. Somos nós que, em vida, precisamos ressuscitar as potencialidades do espírito, premissas e promessas de uma verdadeira dignidade humana. Num misto de Marcel Proust e Caçador da Arca Perdida, necessitamos urgentemente empreender a busca da consciência perdida, onde a solidária indignação contra as injustiças tenha cheiro de madeleines apetitosas. Caso contrário, seremos engolidos por esses simulacros de pirâmides - os shopping centers - que sequer têm estrutura para contar à posteridade quão grande foi a pobreza de espírito de uma geração que tinha, como suprema ambição, meia dúzia de engenhocas eletrônicas.
[Autor de "Treze contos diabólicos e um angélico" (Planeta), entre outros livros].
Frei dominicano.
24 de março de 2008
Sol
21 de março de 2008
20 de março de 2008
Semana Santa
18 de março de 2008
Devaneios

17 de março de 2008
A crise do Filho do Homem

A interpretação teológica da morte de Jesus na cruz, como sacrifício por nossos pecados, fez-nos esquecer com demasiada pressa os reais motivos históricos que o levaram ao tribunal religioso e político e por fim ao assassinato na cruz.
Cristo não foi simplesmente a doce e mansa figura de Nazaré. Foi alguém que usou palavras duras, não fugiu a polêmicas e para salvaguardar a sacralidade do templo, usou também da violência física. O contexto de sua vida, como as pesquisas recentes mostraram, é comum a dos camponeses e artesãos mediterrâneos que viviam uma resistência radical, mas não violenta contra o desenvolvimento urbano de Herodes Antipas e o comercialismo rural de Roma, imposto na Baixa Galiléia -terra de Jesus - que empobrecia toda a população. Pregou uma mensagem que constituiu uma crise radical para a situação política e religiosa da época. Anunciou o Reino de Deus em oposição do reino de César e em vez da lei, o amor.
Reino de Deus apresenta duas dimensões, uma política e outra religiosa. A política se opunha ao Reino de César em Roma que se entendia filho de Deus, Deus e Deus de Deus, os mesmos títulos que os cristãos mais tarde irão atribuir a Jesus. Tal atribuição a Jesus era intolerável para um judeu piedoso e um crime de lesa-majestade para um romano. A outra versão, a religiosa, se chamava apocalíptica que significava: face às perversidades do mundo, esperava-se a intervenção iminente de Deus e a inauguração de um Reino de justiça e de paz.
Jesus se filia a esta corrente. Apenas com a diferença: o Reino é um processo que apenas começou e vai se realizando à medida em que as pessoas mudam mentes e corações. Só no termo da história ocorrerá a grande virada com um novo céu e uma nova Terra. Essa eutopia (realidade boa), não a Igreja, é o projeto fundamental de Jesus. Ele se entende como aquele que em nome de Deus vai acelerar semelhante processo. Essa concepção de Reino colocou em crise os vários atores sociais, os publicanos e saduceus, aliados dos romanos, a classe sacerdotal, os guerrilheiros zelotas e principalmente os fariseus. Estes são os opositores principais do Filho do Homem, pois ao invés do amor pregavam a rigidez da lei, no lugar de um Deus bom, "Paizinho" (Abba), um Juiz severo.
Para Jesus Deus é um Pai com características de mãe misericordiosa.
Jesus faz desta compreensão o centro de sua mensagem. Entende todo poder como mero serviço. Rejeita as hierarquias porque todos somos irmãos e irmãs, sem mestres e pais.
A crise que suscitou, levou à decretação de sua morte na cruz. Jesus entrou numa aguda crise pessoal, chamada pelos estudiosos de "crise da Galiléia". Sente-se abandonado pelos seguidores, vislumbra no horizonte a morte violenta, como a dos profetas. A tentação do monte Getsêmani representa um paroxismo: "Pai afasta de mim este cálice". Mas também o propósito de tudo suportar e de levar seu compromisso até o fim. Na cruz grita quase desesperado: "Meu Deus, por que me abandonaste"? Mesmo assim continua chamando-o de "Meu Deus". A Epístola aos Hebreus testemunha: "Entre clamores e lágrimas, suplicou Àquele que o podia salvar da morte". Versões críticas antigas dizem "e não foi atendido…, apesar de ser Filho de Deus teve que aprender a obedecer por meio dos sofrimentos" (5,7-8).
Sua última palavra foi: "Pai em tuas mãos entrego o meu espírito", expressão suprema de uma confiança ilimitada. De fato, ele é apresentado como o protótipo do homem que suportou até o fim o fracasso do projeto de vida, crendo num sentido radical mesmo dentro do absurdo existencial.
A ressurreição mostrou o acerto de tal atitude. Foi a base para proclamá-lo mais tarde como Filho de Deus e Deus encarnado.
*Teólogo e professor emérito de ética da UERJ
14 de março de 2008
13 de março de 2008
Até quando...
Quantas vezes já disse a si mesmo que chegou ao limite de suas energias, que não agüenta mais?
O sol pode demorar a surgir, mas sempre ressurge, afagando a vida e renovando a esperança...
11 de março de 2008

Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e migo
Tempo tempo tempo tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo
10 de março de 2008
7 de março de 2008
O fio da história
Lá estavam elas, ao som dos teares, tecendo com fio lilás os tecidos que deveriam vestir e aquecer outros corpos – roupas que elas mesmas jamais vestiriam.
Já próximas ao limite de suas forças, exaustas pelas 16 horas de lida diária, as operárias ainda encontravam ânimo para socorrer companheiras que se esvaíam tuberculosas; para saudar crianças recém-nascidas que saltavam pra dentro da vida ali mesmo, sob os teares; e para chorar as envelhecidas jovens que aos 30 anos agonizavam em seus postos e se despediam de sua breve vida.
Entretanto, embaladas pelo ritmo das máquinas e com o colo molhado pelas lágrimas, gestam sonhos de esperanças: salários dignos, melhores condições de saúde, jornada de trabalho que lhes permitisse abraçar mais longamente suas crianças, beijar mais ternamente seus maridos e saborear um pouco mais a comunhão à mesa na simplicidade dos seus lares.
Contagiadas por esse sonho, foram compartilhá-lo com o patrão.
Mas o patrão, indignado com tamanho absurdo, julgou ser este um caso de polícia e resolveu transformar aquele sonho divino em um pesadelo infernal.
No dia 8 de março de 1857, as portas da fábrica Cotton de Nova York foram trancadas e o edifício transformado em um grande crematório, onde 129 mulheres foram sacrificadas.
Mas a fumaça daquele holocausto espalhou-se por todo lugar levando consigo o sonho daquelas mulheres, contagiando e sensibilizando pessoas em todo o mundo que se encarregaram de tornar realidade aquele ideal.
Mártires cremadas, fios lilases, gestantes de um mundo melhor inspiraram Clara Zetkin, a propor, Durante o Congresso Internacional de Mulheres, realizado na Noruega, em 1910, a instituição do Dia Internacional da Mulher.
Desde então, a cada 8 de março, mulheres e homens reafirmam sua tarefa como tecelãs de uma nova história.
6 de março de 2008
Quem tem medo de John Dear?
No último dia 24 de janeiro, em Santa Fé, Novo México, John Dear foi julgado culpado de desrespeitar os sinais e regulamentos de um prédio público federal estadunidense. Três meses antes, ele e outros cinco homens haviam sido detidos no escritório do senador Pete Domenici, quando tentavam por este ser recebidos e ouvidos.
John Dear foi condenado e se recusa a cumprir a penalidade, que inclui 40 horas de serviço comunitário, uma fiança e um período longo de liberdade condicional. No tribunal, declarou sua intenção de não cooperar com a sentença recebida e provavelmente será preso. Não será uma nova experiência. John Dear já conheceu o interior do cárcere 75 vezes. Esta não é, pois, a primeira nem a última vez em que dormirá atrás de grades, privado da liberdade.
Homem perigoso esse, tantas vezes punido pela lei? Tantas vezes reincidente? Qual é o crime deste que persiste em transgredir normas de segurança e nem sequer é esperto o bastante para fugir das conseqüências de seus atos? O que temem os que continuamente perseguem John Dear e o encarceram?
John Dear é um padre jesuíta, de 48 anos de idade, que há vários anos fez da não-violência e da luta pela paz o sentido maior de sua vida. Une a seu ministério sacerdotal uma intensa e constante atividade em prol da paz, que inclui conferências, pregação de retiros espirituais e protestos como esse que ocasionou sua prisão. Além disso, é fecundo escritor e autor de mais de 25 livros publicados pelas mais prestigiosas editoras dos Estados Unidos. Mantém igualmente uma coluna semanal no National Catholic Repórter, periódico católico americano de vasta circulação.
Naquele dia de outono, John Dear e seus companheiros queriam ser recebidos pelo senador Pete Domenici, para falar-lhe sobre o apoio por ele dado à guerra do Iraque. E por isso foi mais uma vez preso, como em tantas outras oportunidades em atos de desobediência civil não-violenta. Juntamente com outros ativistas de seu país organizou centenas de demonstrações contra a guerra e contra as armas nucleares em bases militares espalhadas pelo país. Indicado para o Prêmio Nobel da Paz pelo bispo anglicano Desmond Tutu, outro grande apóstolo da não-violência, Dear trabalhou igualmente com Madre Teresa de Calcutá e outros contra a pena de morte.
Quando detido por sua tentativa de abordar o senador para protestar contra a guerra, Dear foi interrogado sobre a compatibilidade de sua missão como padre jesuíta e seu envolvimento em atividades políticas daquela natureza. Testemunhou então sob juramento que sua missão como membro da Companhia de Jesus era "salvar almas, acabar com as guerras, libertar os pobres e construir o Reino de Deus, de justiça e paz". Questionado pelo juiz onde se encontrava essa afirmação, respondeu citando os documentos das últimas Congregações Gerais de sua ordem religiosa.
Seguramente nosso prudente e cuidadoso olhar considera com suspeita e desconfiança esse homem meio louco, que se mete a protestar onde não é chamado e não resiste à prisão, mas recomeça insistentemente a atividade que novamente o levará a ela. Na verdade, John Dear é apenas alguém que deseja viver radicalmente o coração do Evangelho de Jesus Cristo em lugar de apenas pregar, falar e escrever sobre ele.
Sofrendo na carne as conseqüências de sua fé, este padre ainda jovem espera que seu testemunho contra uma guerra sem sentido conscientize governantes e povo de que estamos, como humanidade, nos aproximando de um perigoso ponto do qual não há mais retorno. A conseqüência pode ser nossa própria destruição, total e irreversível.
Os que temem John Dear e tratam de neutralizar sua palavra e seus atos sabem que ele tem razão ao dizer que a alternativa não é mais entre violência e não-violência. É, sim, entre violência e não-existência. Mas a partir do momento em que alguém como ele não se contenta em falar, mas começa a agir, já não pode ser deixado livre.
Graças a Deus John Dear não se impressiona muito com o que pode lhe acontecer. Muito maior lhe parece o tamanho da missão que Deus lhe deu. Sem dúvida, sua pessoa e sua vida são um bom tema de reflexão neste tempo de Quaresma e conversão. Sobretudo para nós, que vivemos em um país não diretamente implicado na guerra do Iraque, mas que mata o equivalente a uma guerra do Vietnam por ano na guerra do tráfico e do crime organizado.
[Autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (www.users.rdc.puc-rio.br/agape)]
* teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
5 de março de 2008
De grandes finais
O que ficou está uma beleza (e o DVD foi lançado recentemente a respeitar a integridade do formato original em cinemascope):MacLaine, na festa de Ano Novo, sente que está apaixonada por Jack Lemmon e a impressão que se tem é a de que "voa" para o apartamento dele.
Em tempos idos, o filme geralmente se finalizava com um retumbante "the end". Alguns, em imagem parada, colocavam o "cast of characters". Mas a maioria terminava sem nenhuma outra indicação. A partir dos anos 80, no entanto, o poderoso sindicato que reúne os profissionais do cinema nos Estados Unidos, ganha na justiça o direito de ter todos os nomes dos técnicos e artistas mostrados na tela.
Do diretor, de todos os atores - mesmo aquele que faz uma minúscula ponta, até os motoristas, os contínuos e aqueles que servem o cafezinho. Como resultado, os filmes passaram a colocar os créditos no final, a fazer com que estes "subam" de maneira quase interminável.As pessoas, porém, não têm paciência nem interesse. A partir do momento em que os créditos sobem, as portas de saída se abrem para a "boiada" passar. Faço questão, no entanto, de ficar até que o último fotograma se apague da tela. Na subida dos créditos, há a partitura musical, informações aqui e ali esclarecedoras, enfim, creio que a ascensão dos letreiros faz parte da "mise-en-scène" da obra cinematográfica.
Existe um filme produzido por Steven Spielberg (o nome do diretor não me lembro agora) chamado "O enigma da pirâmide" no qual um dado da resolução do mistério é fornecido somente depois que todos os créditos são apresentados. Lembro-me que as pessoas reclamaram da falta de explicação no desenlace, a faltar alguma coisa importante.
Ficaram sem entender o filme na sua integridade por causa dessa ânsia de ir logo embora, como se aflitas estivessem para pegar o "último metrô".Um amigo, que esteve na França, contou-me que os franceses não se comportam como vândalos como se verifica nos complexos de salas do Brasil, mas assistem ao filme em silêncio e com grande interesse. E, mais importante, permanecem na sala de exibição até o fim da apresentação dos créditos. Se nos Estados Unidos, que instituíram a pipoca como complemento indispensável da visão de um filme, a comilança é geral, na Europa, excetuando-se um "drops" discreto ou uma tábua de chocolate amena, não se faz do cinema, como aqui, um "fast food". Há, sim, uma "bombonière", como, aliás, também entre nós em décadas passadas.
A comilança aumentou, e se encontra, hoje, em níveis insuportáveis, por causa da decadência da indústria cultural hollywoodiana, com a infantilização temática que se estabeleceu através do advento dos efeitos especiais e da ação ininterrupta como prioridades.
Mas estava a falar sobre outra decadência: a da composição dos grandes finais. Em "Irma la douce", por exemplo, o fecho é de ouro. Há um personagem, Moustache, dono do bar do bairro da prostituição, que gosta de contar as suas peripécias do passado e que finaliza suas anedotas com um "mas é outra história" - Moustache, na verdade, é um grande mentiroso. O policial Nestor, vivido por Jack Lemmon, que se apaixona por Irma (Shirley MacLaine), uma prostituta delicada e amorosa, não admite que a sua amada continue a se dar aos homens. E se transforma num outro personagem, Lord X, um "milionário inglês", que, uma vez por semana, vai visitar Irma e deixa, com ela, uma soma respeitável para que, assim, não precise trabalhar (o dinheiro do Lord X é fruto do trabalho exaustivo, e noturno, do policial, que passa as noites em claro para ganhá-lo).
Dessa maneira, Nestor fica feliz, pois sabe que o Lord X é ele mesmo e, além do mais, não tem o lord relações com ela, mas apenas fica a jogar cartas nas suas idas semanais. Um belo dia, no entanto, o Lord sucumbe aos encantos de Irma e tem com esta uma conjunção carnal. Ela fica grávida. Nestor, cheio de ciúmes, "mata" o Lord X. A sua morte se faz com ele a andar pelas ruas de Paris a tirar os disfarces do personagem.
Bem, no final, Irma, quando está na Igreja, diante do padre, para se casar com Nestor, tem a dor do parto e se dirige à sacristia para ter o filho. A câmera fixa promove uma ligeira panorâmica para mostrar as pessoas a se dirigir à sacristia inclusive o policial Nestor. Resta, porém, sentado, na sala vazia, Lord X (o espectador se confunde por que sabe que Lord X é Nestor e, então, como poderia estar ali já que Nestor está na sacristia), que se levanta, passa diante de um atônico Moustache, que se dirige ao público e diz: "Mas é outra história".
Wilder, em outro filme, menos conhecido, "Cupido não tem bandeira" ("One, two, three, 1961), tem um desfecho também surpreendente: James Cagney, executivo da Coca-Cola em Berlim, com seus familiares no aeroporto, começa a tirar, de uma máquina, cocas em latas e, de repente, sai um Crush, a lhe fazer ficar estupefato e a imagem congelada. O que dizer de um dos finais mais saborosos da história do cinema? Aquele de "Quanto mais quente melhor" ("Some like it hot", 1959) do "Ninguém é perfeito".
Se Wilder tinha fechos primorosos, o mesmo acontecia com Hitchcock, que estudava muito a composição de seus "the ends". O seu canto de cisne, "Trama macabra" ("The family plot", 1976) tem um final impressionante e pleno de espirituosidade, quando Bárbara Harris, a falsa vidente, senta-se na escada e pisca os olhos para o espectador. Em "Intriga internacional", para simbolizar a posse sexual de Eve-Marie Saint por Cary Grant, um trem entra num túnel. Em "O homem que sabia demais" ("The man who to knew too much", 1956), os convidados estão a esperar James Stewart e Doris Day, que, quando eles chegaram, tiveram que sair para descobrir o paradeiro de seu filho, Hanks. Toda a ação se comprime em algumas horas, e dada a resolução, os pais entram em casa e encontram todos os convidados a dormir. Quando abrem a porta dizem, simplesmente, "Demoramos porque fomos buscar Hanks".
É o tal negócio: quando há bom cinema difícil fica passar a idéia, dar a impressão de determinado momento cinematográfico. É o caso dessa coluna de hoje.
André Setaro é crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
-negrito e gifs por minha conta!
Hoje é meu niver!
Agradeço as mensagens pelo mail e orkut... Um abraço.
Espero que todos os meus desejos se realizem!
4 de março de 2008
Desejo
3 de março de 2008
De segunda...
Fui acordada antes das 7 horas por um senhor que queria insistentemente saber onde deveria descarregar uma carga de brita...
Odeio acordar assim...
Sei lá quem poderia ser o cidadão... Mas como é chato alguém ligar pra você e quando você diz que é um engano a pessoa insiste!!!!!!!
Bom vamos adiante... Segundona, o final de semana foi tranquilo, me programei pra dormir e consegui...
Essa semana promete, começam aulas, reuniões, atividades... O ano começa nessa semana!!! Com, praticamente, o início do ano, surgem "as malas" de volta das férias!!!
Gente com pressa, querendo as coisas "pra ontem", gente correndo no trânsito... Janeiro e fevereiro sempre parecem nos deixar em "banho maria", março tudo é retomado com uma pressa escatológica!
A paciência se torna artigo raro...
Ando precisando de descanso, férias e de paciência, senão vou explodir!
E faltando pouco tempo para se concretizar um sonho, fica mais difícil a espera...
Dos planos para este ano, alguns já estão em processo final...
É uma alegria e ao mesmo tempo uma aflição. Pois escolher é a fase mais fácil, pois sempre que escolhemos, renunciamos! Esta é a parte mais difícil, renunciar.
Um aprendizado e tanto, mas que faz parte da mudança, do planejamento, da esperança...
Boa semana para todos, que seja uma doce semana...

1 de março de 2008
Música

Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar
Se voltar desejos ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música música
Se lembrar dos tempos dos nossos momentos
Lembre da nossa música música
Nossas juras de amor já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nossos mais belo plano
Desperdiçados
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva
Se voltar desejos ...
Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros
Dilacerados
Nossa bela história
Está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou
31 de março de 2008
Poesia
30 de março de 2008
O afastamento
Quando chegar a hora eu conto tudo tá!
Boa semana a todos e sejam felizes...
Agradeço quem diariamente faz uma visitinha aqui, saibam que visito sempre os blogs amigos (linkados aqui) e a medida que for descobrindo outros blogs legais eu os "linkarei".
Abraços e beijocas!
25 de março de 2008
Travessia - Frei Betto
Resta em nós uma perene idade da inocência.
A ternura denuncia a veracidade do amor, sublinha Milan Kundera. Recôndito no qual evocamos, nostálgicos, as missas de domingo, as procissões sob andores cercados de velas, o toque salvífico da água benta, o silêncio acolhedor de igrejas que o gótico não teve vergonha de desenhar como vulvas estilizadas.
Jesus ressuscitou! - celebra esta festa de aleluias.
Ainda que a razão não alcance a dimensão do fato pascal, a intuição capta a crise da modernidade a nos induzir a um mundo sem mistérios e enigmas. Mundo sombrio, onde os mortos se sobrepõem aos vivos.
Até o advento do Iluminismo, a inteligência recendia a incenso. Copérnico e Galileu decifraram a harmonia da natureza como reflexo do Criador, e Newton acertou seus cálculos pelos ponteiros dos relógios das catedrais. Depois, o dilúvio inundou os claustros. A razão irrompeu soberana, relegando à superstição tudo que não fosse mensurável. Então, o mistério aflorou.
De que valem perguntas quando se julga possuir todas as respostas? Voltaire e os enciclopedistas ousaram secularizar a inteligência e, mais tarde, Baudelaire e Rimbaud tatearam ávidos em busca de um Deus capaz de aplacar-lhes a sede de Absoluto. Dostoiévski revestiu-se da figura emblemática de Jesus, despiu seus monges das vestes eclesiásticas, escancarou-lhes a alma atormentada pelos demônios da dúvida.
Nietzsche roubou o fogo dos deuses e incendiou de liberdade o espírito humano. Sartre proclamou que o inferno são os outros e erigiu o absurdo da morte em ato final que destitui a vida de qualquer sentido.
Entre angústias e utopias, o último século foi também marcado pelo enigma Jesus. Corações e mentes o acolheram como paradigma: Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene, Alberto Schweitzer etc. No Brasil, Murilo Mendes, Sobral Pinto, Gustavo Corção, Tristão de Athayde, Hélio Pellegrino etc.
Hoje, pavores transcendentais já não atribulariam a alma poética de um William Blake. Entre tanta miséria, esvai-se o encanto. Jesus é Deus que se fez homem e, de homem, virou pão. Pai Nosso/pão nosso. Esta concretude assusta. A fé cristã não proclama a ressurreição da alma, mas "da carne". Jesus não é a figura do Olimpo grego enaltecida pela força irrepresável da literatura. É o judeu crucificado, por razões político-religiosas, na Palestina do século I, e cujas aparições, como ressuscitado, contradizem as regras da ficção literária. Que autor criaria um personagem imortal com chagas nas mãos e ansioso por comida? As narrativas evangélicas são, tecnicamente, descrições de um fato objetivo. À luz da fé, proclamação de que Jesus é o Cristo.
Antes de cair em mãos da repressão que o assassinou, Jesus fez-se comida e bebida. Poeta e profeta, dominava a linguagem realista dos símbolos. Eis aqui o desafio atual à inquietude da inteligência. O pão repartido passa a ser corpo divino; o vinho partilhado, aliança feita com sangue e prenúncio da festa sem fim. O Deus de Jesus não é um velho Narciso à cata de adoradores nem um algoz irado com os pecadores. É Abba, o pai amoroso ("mais mãe do que pai", diria João Paulo I), cujo dom maior é a vida.
Já não temos as longas guerras que inquietaram espíritos como Tolstoi e Camus; o que vemos, de Bagdá a Guantánamo, é escabroso comparado à engenharia marcial dos exércitos em conflito: a estrada rumo ao futuro palmilhada de corpos degradados e famintos. Hoje, tropeça-se na rua em seres esquartejados em sua dignidade. Todos os discursos oficiais e todos os ajustes fiscais ofendem a condição humana por exaltarem a concentração do lucro e ignorarem a partilha da vida. Em sua hipocrisia, o sistema salva sua aura cristã e exclui o pão. A metafísica monetarista estabiliza moedas e desestabiliza famílias; reduz a inflação e aumenta a miséria; socorre bancos e multiplica o desemprego; abraça o mercado e despreza o direito à vida - e vida em abundância, para todos.
Agora, a globalização despolitiza, o esoterismo desculpabiliza e o consumismo individualiza. Livres de ideologias messiânicas, de culpas aterrorizadoras e de altruísmo coletivo, estamos à deriva neste início de século, cujas pitonisas proclamam que "a história acabou".
Páscoa é travessia - também para uma ética política, que torne o pão acessível a cada boca e, o vinho, alegria em cada alma. Somos nós que, em vida, precisamos ressuscitar as potencialidades do espírito, premissas e promessas de uma verdadeira dignidade humana. Num misto de Marcel Proust e Caçador da Arca Perdida, necessitamos urgentemente empreender a busca da consciência perdida, onde a solidária indignação contra as injustiças tenha cheiro de madeleines apetitosas. Caso contrário, seremos engolidos por esses simulacros de pirâmides - os shopping centers - que sequer têm estrutura para contar à posteridade quão grande foi a pobreza de espírito de uma geração que tinha, como suprema ambição, meia dúzia de engenhocas eletrônicas.
[Autor de "Treze contos diabólicos e um angélico" (Planeta), entre outros livros].
Frei dominicano.
24 de março de 2008
Sol
21 de março de 2008
20 de março de 2008
Semana Santa
18 de março de 2008
Devaneios

17 de março de 2008
A crise do Filho do Homem

A interpretação teológica da morte de Jesus na cruz, como sacrifício por nossos pecados, fez-nos esquecer com demasiada pressa os reais motivos históricos que o levaram ao tribunal religioso e político e por fim ao assassinato na cruz.
Cristo não foi simplesmente a doce e mansa figura de Nazaré. Foi alguém que usou palavras duras, não fugiu a polêmicas e para salvaguardar a sacralidade do templo, usou também da violência física. O contexto de sua vida, como as pesquisas recentes mostraram, é comum a dos camponeses e artesãos mediterrâneos que viviam uma resistência radical, mas não violenta contra o desenvolvimento urbano de Herodes Antipas e o comercialismo rural de Roma, imposto na Baixa Galiléia -terra de Jesus - que empobrecia toda a população. Pregou uma mensagem que constituiu uma crise radical para a situação política e religiosa da época. Anunciou o Reino de Deus em oposição do reino de César e em vez da lei, o amor.
Reino de Deus apresenta duas dimensões, uma política e outra religiosa. A política se opunha ao Reino de César em Roma que se entendia filho de Deus, Deus e Deus de Deus, os mesmos títulos que os cristãos mais tarde irão atribuir a Jesus. Tal atribuição a Jesus era intolerável para um judeu piedoso e um crime de lesa-majestade para um romano. A outra versão, a religiosa, se chamava apocalíptica que significava: face às perversidades do mundo, esperava-se a intervenção iminente de Deus e a inauguração de um Reino de justiça e de paz.
Jesus se filia a esta corrente. Apenas com a diferença: o Reino é um processo que apenas começou e vai se realizando à medida em que as pessoas mudam mentes e corações. Só no termo da história ocorrerá a grande virada com um novo céu e uma nova Terra. Essa eutopia (realidade boa), não a Igreja, é o projeto fundamental de Jesus. Ele se entende como aquele que em nome de Deus vai acelerar semelhante processo. Essa concepção de Reino colocou em crise os vários atores sociais, os publicanos e saduceus, aliados dos romanos, a classe sacerdotal, os guerrilheiros zelotas e principalmente os fariseus. Estes são os opositores principais do Filho do Homem, pois ao invés do amor pregavam a rigidez da lei, no lugar de um Deus bom, "Paizinho" (Abba), um Juiz severo.
Para Jesus Deus é um Pai com características de mãe misericordiosa.
Jesus faz desta compreensão o centro de sua mensagem. Entende todo poder como mero serviço. Rejeita as hierarquias porque todos somos irmãos e irmãs, sem mestres e pais.
A crise que suscitou, levou à decretação de sua morte na cruz. Jesus entrou numa aguda crise pessoal, chamada pelos estudiosos de "crise da Galiléia". Sente-se abandonado pelos seguidores, vislumbra no horizonte a morte violenta, como a dos profetas. A tentação do monte Getsêmani representa um paroxismo: "Pai afasta de mim este cálice". Mas também o propósito de tudo suportar e de levar seu compromisso até o fim. Na cruz grita quase desesperado: "Meu Deus, por que me abandonaste"? Mesmo assim continua chamando-o de "Meu Deus". A Epístola aos Hebreus testemunha: "Entre clamores e lágrimas, suplicou Àquele que o podia salvar da morte". Versões críticas antigas dizem "e não foi atendido…, apesar de ser Filho de Deus teve que aprender a obedecer por meio dos sofrimentos" (5,7-8).
Sua última palavra foi: "Pai em tuas mãos entrego o meu espírito", expressão suprema de uma confiança ilimitada. De fato, ele é apresentado como o protótipo do homem que suportou até o fim o fracasso do projeto de vida, crendo num sentido radical mesmo dentro do absurdo existencial.
A ressurreição mostrou o acerto de tal atitude. Foi a base para proclamá-lo mais tarde como Filho de Deus e Deus encarnado.
*Teólogo e professor emérito de ética da UERJ
14 de março de 2008
13 de março de 2008
Até quando...
Quantas vezes já disse a si mesmo que chegou ao limite de suas energias, que não agüenta mais?
O sol pode demorar a surgir, mas sempre ressurge, afagando a vida e renovando a esperança...
11 de março de 2008

Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e migo
Tempo tempo tempo tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo
10 de março de 2008
7 de março de 2008
O fio da história
Lá estavam elas, ao som dos teares, tecendo com fio lilás os tecidos que deveriam vestir e aquecer outros corpos – roupas que elas mesmas jamais vestiriam.
Já próximas ao limite de suas forças, exaustas pelas 16 horas de lida diária, as operárias ainda encontravam ânimo para socorrer companheiras que se esvaíam tuberculosas; para saudar crianças recém-nascidas que saltavam pra dentro da vida ali mesmo, sob os teares; e para chorar as envelhecidas jovens que aos 30 anos agonizavam em seus postos e se despediam de sua breve vida.
Entretanto, embaladas pelo ritmo das máquinas e com o colo molhado pelas lágrimas, gestam sonhos de esperanças: salários dignos, melhores condições de saúde, jornada de trabalho que lhes permitisse abraçar mais longamente suas crianças, beijar mais ternamente seus maridos e saborear um pouco mais a comunhão à mesa na simplicidade dos seus lares.
Contagiadas por esse sonho, foram compartilhá-lo com o patrão.
Mas o patrão, indignado com tamanho absurdo, julgou ser este um caso de polícia e resolveu transformar aquele sonho divino em um pesadelo infernal.
No dia 8 de março de 1857, as portas da fábrica Cotton de Nova York foram trancadas e o edifício transformado em um grande crematório, onde 129 mulheres foram sacrificadas.
Mas a fumaça daquele holocausto espalhou-se por todo lugar levando consigo o sonho daquelas mulheres, contagiando e sensibilizando pessoas em todo o mundo que se encarregaram de tornar realidade aquele ideal.
Mártires cremadas, fios lilases, gestantes de um mundo melhor inspiraram Clara Zetkin, a propor, Durante o Congresso Internacional de Mulheres, realizado na Noruega, em 1910, a instituição do Dia Internacional da Mulher.
Desde então, a cada 8 de março, mulheres e homens reafirmam sua tarefa como tecelãs de uma nova história.
6 de março de 2008
Quem tem medo de John Dear?
No último dia 24 de janeiro, em Santa Fé, Novo México, John Dear foi julgado culpado de desrespeitar os sinais e regulamentos de um prédio público federal estadunidense. Três meses antes, ele e outros cinco homens haviam sido detidos no escritório do senador Pete Domenici, quando tentavam por este ser recebidos e ouvidos.
John Dear foi condenado e se recusa a cumprir a penalidade, que inclui 40 horas de serviço comunitário, uma fiança e um período longo de liberdade condicional. No tribunal, declarou sua intenção de não cooperar com a sentença recebida e provavelmente será preso. Não será uma nova experiência. John Dear já conheceu o interior do cárcere 75 vezes. Esta não é, pois, a primeira nem a última vez em que dormirá atrás de grades, privado da liberdade.
Homem perigoso esse, tantas vezes punido pela lei? Tantas vezes reincidente? Qual é o crime deste que persiste em transgredir normas de segurança e nem sequer é esperto o bastante para fugir das conseqüências de seus atos? O que temem os que continuamente perseguem John Dear e o encarceram?
John Dear é um padre jesuíta, de 48 anos de idade, que há vários anos fez da não-violência e da luta pela paz o sentido maior de sua vida. Une a seu ministério sacerdotal uma intensa e constante atividade em prol da paz, que inclui conferências, pregação de retiros espirituais e protestos como esse que ocasionou sua prisão. Além disso, é fecundo escritor e autor de mais de 25 livros publicados pelas mais prestigiosas editoras dos Estados Unidos. Mantém igualmente uma coluna semanal no National Catholic Repórter, periódico católico americano de vasta circulação.
Naquele dia de outono, John Dear e seus companheiros queriam ser recebidos pelo senador Pete Domenici, para falar-lhe sobre o apoio por ele dado à guerra do Iraque. E por isso foi mais uma vez preso, como em tantas outras oportunidades em atos de desobediência civil não-violenta. Juntamente com outros ativistas de seu país organizou centenas de demonstrações contra a guerra e contra as armas nucleares em bases militares espalhadas pelo país. Indicado para o Prêmio Nobel da Paz pelo bispo anglicano Desmond Tutu, outro grande apóstolo da não-violência, Dear trabalhou igualmente com Madre Teresa de Calcutá e outros contra a pena de morte.
Quando detido por sua tentativa de abordar o senador para protestar contra a guerra, Dear foi interrogado sobre a compatibilidade de sua missão como padre jesuíta e seu envolvimento em atividades políticas daquela natureza. Testemunhou então sob juramento que sua missão como membro da Companhia de Jesus era "salvar almas, acabar com as guerras, libertar os pobres e construir o Reino de Deus, de justiça e paz". Questionado pelo juiz onde se encontrava essa afirmação, respondeu citando os documentos das últimas Congregações Gerais de sua ordem religiosa.
Seguramente nosso prudente e cuidadoso olhar considera com suspeita e desconfiança esse homem meio louco, que se mete a protestar onde não é chamado e não resiste à prisão, mas recomeça insistentemente a atividade que novamente o levará a ela. Na verdade, John Dear é apenas alguém que deseja viver radicalmente o coração do Evangelho de Jesus Cristo em lugar de apenas pregar, falar e escrever sobre ele.
Sofrendo na carne as conseqüências de sua fé, este padre ainda jovem espera que seu testemunho contra uma guerra sem sentido conscientize governantes e povo de que estamos, como humanidade, nos aproximando de um perigoso ponto do qual não há mais retorno. A conseqüência pode ser nossa própria destruição, total e irreversível.
Os que temem John Dear e tratam de neutralizar sua palavra e seus atos sabem que ele tem razão ao dizer que a alternativa não é mais entre violência e não-violência. É, sim, entre violência e não-existência. Mas a partir do momento em que alguém como ele não se contenta em falar, mas começa a agir, já não pode ser deixado livre.
Graças a Deus John Dear não se impressiona muito com o que pode lhe acontecer. Muito maior lhe parece o tamanho da missão que Deus lhe deu. Sem dúvida, sua pessoa e sua vida são um bom tema de reflexão neste tempo de Quaresma e conversão. Sobretudo para nós, que vivemos em um país não diretamente implicado na guerra do Iraque, mas que mata o equivalente a uma guerra do Vietnam por ano na guerra do tráfico e do crime organizado.
[Autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (www.users.rdc.puc-rio.br/agape)]
* teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
5 de março de 2008
De grandes finais
O que ficou está uma beleza (e o DVD foi lançado recentemente a respeitar a integridade do formato original em cinemascope):MacLaine, na festa de Ano Novo, sente que está apaixonada por Jack Lemmon e a impressão que se tem é a de que "voa" para o apartamento dele.
Em tempos idos, o filme geralmente se finalizava com um retumbante "the end". Alguns, em imagem parada, colocavam o "cast of characters". Mas a maioria terminava sem nenhuma outra indicação. A partir dos anos 80, no entanto, o poderoso sindicato que reúne os profissionais do cinema nos Estados Unidos, ganha na justiça o direito de ter todos os nomes dos técnicos e artistas mostrados na tela.
Do diretor, de todos os atores - mesmo aquele que faz uma minúscula ponta, até os motoristas, os contínuos e aqueles que servem o cafezinho. Como resultado, os filmes passaram a colocar os créditos no final, a fazer com que estes "subam" de maneira quase interminável.As pessoas, porém, não têm paciência nem interesse. A partir do momento em que os créditos sobem, as portas de saída se abrem para a "boiada" passar. Faço questão, no entanto, de ficar até que o último fotograma se apague da tela. Na subida dos créditos, há a partitura musical, informações aqui e ali esclarecedoras, enfim, creio que a ascensão dos letreiros faz parte da "mise-en-scène" da obra cinematográfica.
Existe um filme produzido por Steven Spielberg (o nome do diretor não me lembro agora) chamado "O enigma da pirâmide" no qual um dado da resolução do mistério é fornecido somente depois que todos os créditos são apresentados. Lembro-me que as pessoas reclamaram da falta de explicação no desenlace, a faltar alguma coisa importante.
Ficaram sem entender o filme na sua integridade por causa dessa ânsia de ir logo embora, como se aflitas estivessem para pegar o "último metrô".Um amigo, que esteve na França, contou-me que os franceses não se comportam como vândalos como se verifica nos complexos de salas do Brasil, mas assistem ao filme em silêncio e com grande interesse. E, mais importante, permanecem na sala de exibição até o fim da apresentação dos créditos. Se nos Estados Unidos, que instituíram a pipoca como complemento indispensável da visão de um filme, a comilança é geral, na Europa, excetuando-se um "drops" discreto ou uma tábua de chocolate amena, não se faz do cinema, como aqui, um "fast food". Há, sim, uma "bombonière", como, aliás, também entre nós em décadas passadas.
A comilança aumentou, e se encontra, hoje, em níveis insuportáveis, por causa da decadência da indústria cultural hollywoodiana, com a infantilização temática que se estabeleceu através do advento dos efeitos especiais e da ação ininterrupta como prioridades.
Mas estava a falar sobre outra decadência: a da composição dos grandes finais. Em "Irma la douce", por exemplo, o fecho é de ouro. Há um personagem, Moustache, dono do bar do bairro da prostituição, que gosta de contar as suas peripécias do passado e que finaliza suas anedotas com um "mas é outra história" - Moustache, na verdade, é um grande mentiroso. O policial Nestor, vivido por Jack Lemmon, que se apaixona por Irma (Shirley MacLaine), uma prostituta delicada e amorosa, não admite que a sua amada continue a se dar aos homens. E se transforma num outro personagem, Lord X, um "milionário inglês", que, uma vez por semana, vai visitar Irma e deixa, com ela, uma soma respeitável para que, assim, não precise trabalhar (o dinheiro do Lord X é fruto do trabalho exaustivo, e noturno, do policial, que passa as noites em claro para ganhá-lo).
Dessa maneira, Nestor fica feliz, pois sabe que o Lord X é ele mesmo e, além do mais, não tem o lord relações com ela, mas apenas fica a jogar cartas nas suas idas semanais. Um belo dia, no entanto, o Lord sucumbe aos encantos de Irma e tem com esta uma conjunção carnal. Ela fica grávida. Nestor, cheio de ciúmes, "mata" o Lord X. A sua morte se faz com ele a andar pelas ruas de Paris a tirar os disfarces do personagem.
Bem, no final, Irma, quando está na Igreja, diante do padre, para se casar com Nestor, tem a dor do parto e se dirige à sacristia para ter o filho. A câmera fixa promove uma ligeira panorâmica para mostrar as pessoas a se dirigir à sacristia inclusive o policial Nestor. Resta, porém, sentado, na sala vazia, Lord X (o espectador se confunde por que sabe que Lord X é Nestor e, então, como poderia estar ali já que Nestor está na sacristia), que se levanta, passa diante de um atônico Moustache, que se dirige ao público e diz: "Mas é outra história".
Wilder, em outro filme, menos conhecido, "Cupido não tem bandeira" ("One, two, three, 1961), tem um desfecho também surpreendente: James Cagney, executivo da Coca-Cola em Berlim, com seus familiares no aeroporto, começa a tirar, de uma máquina, cocas em latas e, de repente, sai um Crush, a lhe fazer ficar estupefato e a imagem congelada. O que dizer de um dos finais mais saborosos da história do cinema? Aquele de "Quanto mais quente melhor" ("Some like it hot", 1959) do "Ninguém é perfeito".
Se Wilder tinha fechos primorosos, o mesmo acontecia com Hitchcock, que estudava muito a composição de seus "the ends". O seu canto de cisne, "Trama macabra" ("The family plot", 1976) tem um final impressionante e pleno de espirituosidade, quando Bárbara Harris, a falsa vidente, senta-se na escada e pisca os olhos para o espectador. Em "Intriga internacional", para simbolizar a posse sexual de Eve-Marie Saint por Cary Grant, um trem entra num túnel. Em "O homem que sabia demais" ("The man who to knew too much", 1956), os convidados estão a esperar James Stewart e Doris Day, que, quando eles chegaram, tiveram que sair para descobrir o paradeiro de seu filho, Hanks. Toda a ação se comprime em algumas horas, e dada a resolução, os pais entram em casa e encontram todos os convidados a dormir. Quando abrem a porta dizem, simplesmente, "Demoramos porque fomos buscar Hanks".
É o tal negócio: quando há bom cinema difícil fica passar a idéia, dar a impressão de determinado momento cinematográfico. É o caso dessa coluna de hoje.
André Setaro é crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
-negrito e gifs por minha conta!
Hoje é meu niver!
Agradeço as mensagens pelo mail e orkut... Um abraço.
Espero que todos os meus desejos se realizem!
4 de março de 2008
Desejo
3 de março de 2008
De segunda...
Fui acordada antes das 7 horas por um senhor que queria insistentemente saber onde deveria descarregar uma carga de brita...
Odeio acordar assim...
Sei lá quem poderia ser o cidadão... Mas como é chato alguém ligar pra você e quando você diz que é um engano a pessoa insiste!!!!!!!
Bom vamos adiante... Segundona, o final de semana foi tranquilo, me programei pra dormir e consegui...
Essa semana promete, começam aulas, reuniões, atividades... O ano começa nessa semana!!! Com, praticamente, o início do ano, surgem "as malas" de volta das férias!!!
Gente com pressa, querendo as coisas "pra ontem", gente correndo no trânsito... Janeiro e fevereiro sempre parecem nos deixar em "banho maria", março tudo é retomado com uma pressa escatológica!
A paciência se torna artigo raro...
Ando precisando de descanso, férias e de paciência, senão vou explodir!
E faltando pouco tempo para se concretizar um sonho, fica mais difícil a espera...
Dos planos para este ano, alguns já estão em processo final...
É uma alegria e ao mesmo tempo uma aflição. Pois escolher é a fase mais fácil, pois sempre que escolhemos, renunciamos! Esta é a parte mais difícil, renunciar.
Um aprendizado e tanto, mas que faz parte da mudança, do planejamento, da esperança...
Boa semana para todos, que seja uma doce semana...

1 de março de 2008
Música

Se perdeu no fio da vida
E eu vou embora sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar
Se voltar desejos ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música música
Se lembrar dos tempos dos nossos momentos
Lembre da nossa música música
Nossas juras de amor já desbotadas
Nossos beijos de outrora
Foram guardados
Nossos mais belo plano
Desperdiçados
Nossa graça e vontade
Derretem na chuva
Se voltar desejos ...
Um costume de nós
Fica agarrado
As lembranças, os cheiros
Dilacerados
Nossa bela história
Está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou